quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Saiu no A Tarde: Lamarca é lembrado com feriado em Brotas de Macaúbas



O ex-guerrilheiro e capitão do Exército Carlos Lamarca foi homenageado neste sábado, 19, com um feriado municipal em Brotas de Macaúbas, a 600 km de Salvador, onde ele se refugiou antes da sua morte, no dia 17 de setembro de 1971. Em ato político na praça da cidade, com a presença do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, e outros vários ex-militantes da luta contra a ditadura militar (1964-1985), o prefeito Litercílio Júnior (PT) sancionou lei aprovada dias antes pela Câmara Municipal.
A partir do ano que vem, o trabalho é facultativo no 17 de setembro nesta cidade do semiárido baiano. Assim como Lamarca, José Campos Barreto, o Zequinha, natural de Brotas e personagem que morreu ao lado do guerrilheiro, também foi homenageado. “É uma justa homenagem àqueles que lutaram por uma sociedade digna e mais justa. Durante quase 40 anos tentaram esconder e apagar essa história. Fazemos isso para instituir um dia de reflexão sobre o que cada cidadão deve fazer para contribuir pelo bem da sociedade”, disse.
Já o ministro Franklin Martins se disse emocionado de participar das homenagens e encontrar diversas pessoas que compartilharam dos seus ideais. “Vejo aqui que, mais de 30 anos depois, a história que tentaram matar, não conseguiram. Ela continua viva aqui. Esse feriado mostra que isso não é uma coisa de político, é uma coisa entranhada no povo da região, que sofreu muito na época. E isso é muito bonito”, falou.
Martins se liga à história de Brotas pelo ex-militante Santa Bárbara, morto também no município em agosto de 1971. “Ele era estudante secundarista de Feira de Santana e militou junto comigo. Eu aproximei o grupo de estudantes secundaristas da Bahia com o grupo dos universitários do Rio que lutavam contra a ditadura. Fiquei dois meses em Salvador, eles se fundiram conosco, e Santa Bárbara era um deles. Foi quando o pessoal secundarista entrou para o MR-8”, lembrou. Nesse périplo de militância, Santa Bárbara decidiu se abrigar na casa de Zequinha no início de 1971, de onde saiu morto.
Merecimento - “Lamarca nunca foi terrorista. Ele sempre lutou contra o terrorismo instalado pela ditadura, que rasgou a Constituição, depôs o presidente e fechou o Congresso. Ele lutou pela liberdade, pelo socialismo, um homem que merece todas as nossas homenagens”, completou Martins.
O ex-militante Adelmi Jacó Modesto relembra as ações de roubos de armas ao lado de Lamarca e ficou emocionado com as homenagens. “Acho que esse evento é o mais importante em termos políticos no Brasil para os militantes de grupos armados da esquerda daquela época”, disse.
As homenagens, no entanto, não comoveram toda a população de Brotas. Para muitos, a ida de Lamarca para lá só levou terror e medo. É o caso do aposentado José Carlos Oliveira. “Para mim, não vai ser feriado. Como é que o governo manda três mil soldados para cá? Ou eles eram muito perigosos ou eram bandidos de grande periculosidade”, disse, citando Lamarca como o autor do maior roubo de armas do Exército e Zequinha como o sindicalista que ameaçou explodir uma bomba numa indústria paulista.

Fonte: Jornal A Tarde

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