quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Buriti Cristalino, sem medo de resistir


Eram Crianças

E começaram a ter medo.

Foram jovens
E  não  se rebelaram
Ficaram velhos.
... E o medo  a lhes perseguir...

Na década de 70 Buriti Cristalino era um pacato povoado rural com  de 200 habitantes fixos e mais 100 garimpeiros. José Barreto era tudo em Buriti, juiz de paz, sua assinatura valia para as pessoas venderem ou comprarem um pedaço de terra. Conselheiro familiar construiu a escola e cuidava de conseguir professora para que as crianças e os adultos tivessem aula.
Operou a construção da Igrejinha local, buscava o padre em cidades vizinhas para casar as noivas e  batizar os filhos . Era ele que garantia a Paz no povoado. Os moradores o adoravam por sua doçura, sua compreensão da vida, seus conselhos. Junto com sua amada  esposa Dona Nair são ainda hoje referência forte da identidade de Brotas de Macaúbas. Teve 8 filhos: Zequinha Barreto o mais velho tinha seu nome e herdou sua capacidade de liderança. Extremamente sensibilizado e comprometido com os problemas de descaso e injustiça pelos quais passava a Comunidade em que nasceu, agravados com  a ditadura, vai para São Paulo, entra em contato com os ideais de justiça e liberdade dos melhores filhos desse solo, e logo é um dos líderes da famosa greve de Osasco, que em 1970 se alastra por todas as fábricas até a invasão pela polícia e sua primeira prisão. Sai da cadeia e continua a luta, já então militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) organização dirigida pelo Capitão Carlos Lamarca de quem vai compartilhar o destino um pouco depois.
O capitão Carlos Lamarca também compartilha esses mesmos ideais - os ideais de toda uma geração. E servir o exército era seu sonho maior. Ao ver a Instituição promovendo prisões, tortura e morte dos que lhes contestavam o direito de usar a força para depor um governo legitimamente constituído, deserta do exército e se torna o inimigo número 1 das forças de repressão. É caçado como terrorista perigoso. Muitos são mortos por vingança ou porque o aparelho repressor do exército  achava que eles sabiam onde estava o capitão.
Em Brotas de Macaúbas o medo tinha nome e sobrenome: Sérgio Paranhos Fleury.
Invade com seus asseclas a casa do  Sr. José Barreto tortura-o  barbaramente , assassina  na sua frente seu filho Otoniel Campos Barreto, de apenas 20 anos, o militante Luiz Antônio Santa Bárbara de 24 anos, militante do MR 8, professor de crianças, jovens e adultos em Buriti Cristalino e que morava também com a família; atira para matar Olderico Campos Barreto, que ferido gravemente  é conduzido preso para Salvador.
Todos esses fatos foram o batismo de sangue de Buriti Cristalino. As boas vindas do  grupo de extermínio.
 A população foi retirada de suas casas baixo socos, pontapés e  coronhadas  e conduzida ao coreto da praça e obrigados a assistirem tudo isso, calados. Se alguém se manifestava era torturado ali mesmo na frente de crianças, vizinhos, familiares. Assassinaram, bateram, humilharam, constrangeram cidadãos honestos, trabalhadores e inocentes. Torturaram crianças e mataram animais para que o terror fosse maior e mais profundo.
O major Nílton Cerqueira que tinha obsessão por prender Lamarca desde a invasão do Vale a Ribeira em São Paulo chega à região com mais de 360 efetivos, e inicia a caçada, que culmina com a morte dos dois revolucionários no dia 17 de Setembro de 1971.

2 comentários:

  1. Lamarca Vive! Ousar Lutar, Ousar Vencer!!

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  2. Morreram poucos.Fleury devia ter matado todos eles.Inclusive Wanda !!!! E o safado do zè dirceu e outros mais!!!!Estaríamos livres dessa corja para sempre!!!!!!

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