quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Nossos Mártires


ZEQUINHA BARRETO
José Campos Barreto * 2/10/1946 Buriti Cristalino, Brotas de Macaúbas (BA)
  17/09/1971 - Pintada, Ipupiara (BA)

José Campos Barreto era o mais velho dos sete filhos de José Barreto e Adelaide Campos Barreto, a quem todos  conheciam como dona Nair. O pai, já mencionado     como vítima de violentas torturas 20 dias antes, era conhecido e respeitado no município de Brotas de Macaúbas. Em Buriti Cristalino era proprietário de roça e lavrador. Trazia e hospedava em sua casa uma professora para as crianças da Comunidade e construiu a Igreja do local. Era uma  família simples e muito religiosa, Zequinha segue ainda menino para estudar no Seminário de Garanhuns, em Pernambuco onde ficou por quatro anos. Lá estudou francês, inglês e Latim. Em 1963 decidiu  que não tinha vocação religiosa e não volta ao seminário. Em 1964 mudou-se para São Paulo   e no ano seguinte está servindo ao exército justamente no quartel de Quitaúna.  Estudou em Osasco , no Colégio Estadual e Escola Normal Antônio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo Estudantil Osasquense. Já tendo uma firme consciência política, Zequinha trabalha na Lonaflex e depois na Cobrasma, como operário e destacou-se como importante liderança no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco à frente de manifestações e paralisações.  Durante a greve de 1968, os militares cercaram a fábrica e Zequinha, de cima de um vagão, discursou para os soldados explicando o porque da greve.Cerca de 400 operários foram presos e Zequinha entre eles. Permaneceu 98 dias preso no DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus.  Zequinha mora um tempo no Rio de Janeiro e depois retorna à Bahia.
Fixa-se em Buriti Cristalino, recebe Luiz Antônio Santa Bárbara e logo depois o Capitão Carlos Lamarca com quem iria mais tarde compartir o destino.
Segundo o relatório da Operação Pajuçara, ...“foi fácil e rápido exterminá-los: estavam descansando em baixo de uma baraúna, na localidade chamada Pintada. Quando o exército se aproximou Zequinha acordou  Lamarca.Tentou correr, mas foi metralhado por um soldado, gritando antes de morrer: Abaixo a Ditadura!”...
Essas foram as últimas palavras de Zequinha, quando foi morto junto com Lamarca, em setembro de 1971.


SANTA BÁRBARA (PROFESSOR ROBERTO)
Luiz Antônio Santa Bárbara *08/12/1946 Inhambupe (BA)
28/08/1971 - Buriti Cristalino, Brotas de Macaúbas (BA)

Luiz Antônio nasceu em uma família pobre, filho de Deraldino Santa Bárbara e de Maria Ferreira Santa Bárbara.  Estudou no Colégio Municipal Joselito Amorim em Feira de Santana onde presidiu o Grêmio Estudantil.  Trabalhou como tipógrafo na Gazeta do Povo, onde começou sua prática política no meio dos tipógrafos. Fundou um grupo de futebol com trabalhadores da Gazeta do Povo e jogavam com outros times. Fundou também um time com jovens da cidade de Feira de Santana. Em 1967 militava na dissidência baiana do PCB. Em 1968 enfrentou sua primeira prisão e teve contato direto com a tortura, durante a repressão provocada pelo AI-5 (Ato Institucional n° 5).  Atuava na clandestinidade desde 1969 e foi o primeiro militante a ser deslocado para a região de Brotas de Macaúbas em Julho de 1970. Chegou em Buriti Cristalino em 1971, como sendo Roberto o Professor. Hospedado na casa de José Barreto, pai de Zequinha, Otoniel e Olderico, trabalhava diariamente com essa família na roça. Fundou um time de futebol e era visto como craque na região. Ensinava os meninos a jogarem bola e construíram juntos o campo de  futebol.
Sua tarefa era formar uma escola de alfabetização no povoado carente onde poucos sabiam ler. Todas as tardes a casa de José Barreto se enchia de crianças e adultos para as aulas do professor Roberto. Escreveu junto com Lamarca e montou em Buriti uma encenação teatral sobre as dificuldades sentidas pela população local, como pobreza e cobrança de impostos. A apresentação foi um grande sucesso  recordada até hoje pelas pessoas que participaram como atores ou que viram a peça. Roberto fazia também um trabalho de formação política com a população local explicando temas como a propriedade da terra , a fome e a migração para São Paulo.   Sua morte ocorreu na chamada Operação Pajuçara, organizada com o objetivo de destruir Lamarca e seu grupo, conforme consta em documentos oficiais.
O laudo necroscópico revela que ele foi assassinado pelo exército no dia 28/08/1971 aos  24 anos de idade.

OTONIEL BARRETO
 Otoniel Campos Barreto * 11/04/1951 Buriti Cristalino, 
Brotas de Macaúbas, 28/08/1971

Otoniel, irmão de Zequinha, foi executado na casa de seu pai na mesma operação que matou Luiz Antônio Santa Bárbara. Com 20 anos de idade, agricultor, irmão mais novo de Zequinha Barreto que seria  morto junto com Lamarca no  mês seguinte.  Otoniel, sob o impacto dos gritos do pai de 65 anos que estava sendo torturado, tenta empreender uma desesperada fuga.  Foi alvejado com quatro tiros levantando questionamentos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos se teria sido uma execução.   

MANOEL DIAS
Manoel Dias de Santana  08/09/1982 - Boa Vista do Procópio, Muquém do São Francisco
"Onde nós derrama o suor, nós derrama o sangue!"

Manoel Dias, lavrador honrado e reconhecido como homem de muita fé e sabedoria.  Junto com mais 19 lavradores, Manoel tomou posse de 5.000 hectares de terras devolutas para plantarem e sustentarem suas famílias.  Isso foi no ano de 1965 na localidade de Boa Vista do Procópio, então parte do município de Barra.  Ali viveram tranquilamente durante onze anos, tentando inclusive encaminhar a regularização da posse da terra.  A partir de 1976, essas famílias pacatas e trabalhadoras começaram a ser  molestadas pelo grileiro Leão Diniz de Souza Leão Neto, que se dizia proprietário das terras apresentando documentos fraudados.  Nessa época, o já idoso Manoel Dias liderou a organização e a resistência dos posseiros.  Mesmo com denúncias e pedidos de providência feitos na época pela Diocese de Barra e pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), as autoridades não agiram contra as ameaças do grileiro.  No dia 8 de setembro de 1982, o grileiro acompanhado de 30 pistoleiros e com 2 tratores, tomou de assalto Boa Vista do Procópio. 
"Eles derrubaram as casas, quebraram as roças e soltaram e mataram as criações.  Deixou todo mundo desabrigado.  Não satisfeito com isso, ele partiu em frente até matar o velho meu pai".  Essas são palavras de Osvaldo, filho de Manoel Dias.  Um pai de família morto e três outros feridos, crianças, mulheres e velhos desabrigados.  Foi esse o resultado da ação do grileiro que, com arrogância, já propagava sua impunidade, afirmando ter muito dinheiro e influência.  Manoel Dias tinha 77 anos quando foi assassinado pela ganância do latifúndio.

JOTA
Josael de Lima 21/05/1986 - Barra

Josael, mais conhecido pelo apelido de Jota, nasceu na cidade de Tapiramutá no dia 16/03/1936.  Casou-se com Josefa Elze de Jesus. Filho de família humilde, Jota foi funcionário dos correios até sua aposentadoria.  Trabalhou também na FUNDIFRAN (Fundação para o Desenvolvimento Integrado do Vale do São Francisco) e no apoio aos sindicatos de trabalhadores rurais, colônias de pescadores e associações, sempre na defesa dos trabalhadores e da reforma agrária.  Junto à Diocese de Barra, Jota esteve à frente de vários trabalhos: dos encontros de casais até a CPT (Comissão Pastoral da Terra).  Na posse de D. Itamar Vian como bispo diocesano, Jota foi o orador representante dos leigos da Diocese.  Jota foi lutador incansável pelos direitos dos mais fracos e pela democracia.  Foi um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro na cidade de Barra no período da ditadura militar.  Em 1982 foi candidato a prefeito da cidade. 
Quando foi assassinado, Jota assessorava uma equipe do INCRA no levantamento de áreas em conflito de terra e organizava manifestações pela reforma agrária.  Foi morto com um tiro no peito quando voltava do trabalho, a mando dos grileiros Leão Diniz de Souza Leão Neto e Antônio Henrique de Souza Moreira. 
"Espero que a morte de meu marido não fique no esquecimento.  Ele foi um homem que lutou pela reforma agrária e por isso foi morto.  Por essa razão estou aqui para denunciar o descaso das autoridades policiais".  Essas foram as palavras de D. Josefa Elze ao Jornal A Tarde, 4 anos depois do assassinato de seu marido.  Jota tinha 50 anos quando foi morto e deixou seis filhos e dois netos.

Um comentário:

  1. Este site não tem nada de interresante.
    Não achei o que procurava.
    Vê se faz um site mais informativvo, ok?
    Estou dando uma dica para esse site não fracassar!

    ResponderExcluir